Na continuação da minha carta em que te falava da revista de
Serafim Lopes sobre os costumes de nossa terra, eis-me aqui a dar a continuação
da descrição daquela peça de teatro que fascinou o publico em 1943. O
forasteiro que antes tinha vindo passear em alguns lugares de S. Mamede de
Infesta volta à cena com a sua critica e aparece no cruzamento da avenida,
virando-se para o engraxador, trava o seguinte diálogo:
… OLÁ! JÁ CÁ ESTOU OUTRA VEZ:
DESCULPEM ESTE MEU JEITO,
MAS CREIAM VOSSAS MERCECES
QUE EU LEVO MUITO A PEITO
TUDU QUANTO VAMOS VER,
TUDU QUANTO AQUI SE PASSA
OS QUE QUEREM PARECER
TUDO AQUILO QUE NÃO SÃO.
QUEM TEM, QUEM DEIXA DE TER
OS QUE PODEM E OS QUE NÃO…
QUEM QUEIRA TRABALHAR
E OS QUE NÃO QUEREM PAGAR
MAS SEMPRE TEM DE COMER….
E HÁ AINDA O CORRE-CORRE
DOS QUE NÃO PODEM PARAR
E ENQUANTO A VIDA NÃO MORRE
MATAM-SE A TRABALHAR
Como vês João, Serafim Lopes em 1943 tinha uma maneira de
observar a vida que nos faz pensar nos tempos actuais. Este homem tinha uma
visão futura, mas é mais ao abordar a forma como se desprestigia certas artes
que ele nos confidencia estas opiniões:
SEI MUITO BEM QUE A TUA CRUELDADE
NÃO VEM, COMO A DE ALGUNS, DA
MALVADEZ
MAS VEM DESSE DESEJO E RUIM
VAIDADE
QUE FILHO DO POVO ÉS – NÃO TE FAZ
ASPIRAR A SER “BURGUÊS”
FILHO DO POVO ÉS – NÃO É VERDADE?
POR DESPREZO DIRÁS QUE NÃO,
TALVEZ…
MAS SE TAL DIZES, MOSTRAS TER
MALDADE
E MOSTRA QUE TENS VISTA, MAS NÃO
VÊS
FATO DE GANGA É NOBREZA
QUE AO CORPO SE AJUSTA E TALHA
E LHE DÁ VIDA E BELEZA
E A NOBRE DE CERTEZA:
É DE QUEM TRABALHA
Como vês, Serafim Lopes tinha uma maneira de pensar,
actualizada e com o seu peculiar tentava mostrar que a lado nenhum se chega sem
trabalhar…
José Mendonça
25 de Outubro de 2013
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