sábado, 26 de outubro de 2013

Cartas ao meu amigo João: A nobreza do fato de macaco.

Na continuação da minha carta em que te falava da revista de Serafim Lopes sobre os costumes de nossa terra, eis-me aqui a dar a continuação da descrição daquela peça de teatro que fascinou o publico em 1943. O forasteiro que antes tinha vindo passear em alguns lugares de S. Mamede de Infesta volta à cena com a sua critica e aparece no cruzamento da avenida, virando-se para o engraxador, trava o seguinte diálogo:

… OLÁ! JÁ CÁ ESTOU OUTRA VEZ:
DESCULPEM ESTE MEU JEITO,
MAS CREIAM VOSSAS MERCECES
QUE EU LEVO MUITO A PEITO
TUDU QUANTO VAMOS VER,
TUDU QUANTO AQUI SE PASSA
OS QUE QUEREM PARECER
TUDO AQUILO QUE NÃO SÃO.
QUEM TEM, QUEM DEIXA DE TER
OS QUE PODEM E OS QUE NÃO…
QUEM QUEIRA TRABALHAR
E OS QUE NÃO QUEREM PAGAR
MAS SEMPRE TEM DE COMER….
E HÁ AINDA O CORRE-CORRE
DOS QUE NÃO PODEM PARAR
E ENQUANTO A VIDA NÃO MORRE
MATAM-SE A TRABALHAR

Como vês João, Serafim Lopes em 1943 tinha uma maneira de observar a vida que nos faz pensar nos tempos actuais. Este homem tinha uma visão futura, mas é mais ao abordar a forma como se desprestigia certas artes que ele nos confidencia estas opiniões:

SEI MUITO BEM QUE A TUA CRUELDADE
NÃO VEM, COMO A DE ALGUNS, DA MALVADEZ
MAS VEM DESSE DESEJO E RUIM VAIDADE
QUE FILHO DO POVO ÉS – NÃO TE FAZ ASPIRAR A SER “BURGUÊS”
FILHO DO POVO ÉS – NÃO É VERDADE?
POR DESPREZO DIRÁS QUE NÃO, TALVEZ…
MAS SE TAL DIZES, MOSTRAS TER MALDADE
E MOSTRA QUE TENS VISTA, MAS NÃO VÊS

FATO DE GANGA É NOBREZA
QUE AO CORPO SE AJUSTA E TALHA
E LHE DÁ VIDA E BELEZA
E A NOBRE DE CERTEZA:
É DE QUEM TRABALHA


Como vês, Serafim Lopes tinha uma maneira de pensar, actualizada e com o seu peculiar tentava mostrar que a lado nenhum se chega sem trabalhar…


José Mendonça
25 de Outubro de 2013

Sem comentários:

Enviar um comentário