sábado, 5 de abril de 2014

A escola da vida

Platão (427 aC - 347 aC)

Se a memória não me atraiçoa, a vida nunca me ensinou nada.
Penso que, quando nascemos, a nossa memória, que no cérebro repousa em estado puro, vai-se sujeitando a um Mundo novo até então para si inexistente, e a ele se vai adaptando. Ao reavivar as minhas memórias, aquilo de que me recordo remonta aos meus quatro, cinco anos, motivo pelo qual entendo que a vida não é uma escola, mas sim um labirinto com muitas portas rotuladas que indicam os atalhos da amizade, da realidade, da justiça e do trabalho. A Vida torna-se numa Escola apenas se ao labirinto formos capazes de juntar conteúdo e espírito crítico. Nesta medida, então sim, creio que tenho vindo a aprender algo na minha vida terrena.

Ao fazer uma auto-crítica com o intuito de perceber em que medida pode a Vida ter sido uma escola para mim, pareceu-me oportuno recorrer às seguintes reflexões filosóficas de Platão:

"Vencer a si próprio é a maior de todas as vitórias.
Praticar injustiças é pior que sofrê-las.
A harmonia só se consegue através da virtude.
O belo é sempre o esplendor da verdade.
A educação deve possibilitar ao corpo e à alma toda a perfeição e a beleza que ela pode ter."

Entendo que estes pensamentos espelham os labirintos que ziguezagueamos ao longo da vida e, simultaneamente, são as portas rotuladas de que há pouco falava, sem as quais se torna hercúleo, se não até impossível, transpor os obstáculos que se nos deparam nos puzzles que são construídos no nosso dia-a-dia.

Assumindo que a Vida é uma Escola, então, tal qual um bom professor, ao ensinar, suscita muitas interrogações e, neste sentido, um pensamento me atormenta: sendo o Mundo o aprendiz e a Vida a escola, como é possível que o aluno pratique injustiças  (algo bem pior do que sofrê-las), promovendo a guerra, a fome, a injustiça, as convulsões, os atropelos e a ganância? Com este pensamento em mente, sou levado a concluir que a Vida é parte de um livro, composto por páginas luminosas e também por páginas negras e questiono-me em que porta do labirinto estará o lado mais obscuro da Vida e se haverá alguma força que o faça recuar e alcanças a maior de todas as vitórias ao vencer a si próprio, evitando o sofrimento de tanta gente, dando corpo a outro princípio defendido por Platão de que a harmonia só se consegue através da virtude.

Aceitemos, pois, que o belo é sempre esplendor da verdade e concluamos que a Escola da Vida não está ensimesmado na educação dada pelos professores, mas que se completa com os ensinamentos transmitidos pela família, pelos amigos, pela sociedade que nos rodeia e – porque não – pela própria vida que, de tão humilde e altruísta que é, nos mune dos mecanismos necessários a ultrapassar os obstáculos que ela própria cria, possibilitando ao corpo e à alma toda a perfeição e a beleza que ela pode ter, e que, a mim pessoalmente, me leva a afirmar:

-Sim, valeu a pena ter nascido, ter vivido.

Custóias 31-03-2014
José Mendonça

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