Convento de Mafra |
Ao tentar descrever alguns desvios da Nação, pensei para comigo mesmo que as democracias às vezes nos pregam partidas. Dei comigo a consultar o período da nossa história em que D. João V reinou, e isto porque ouço falar em obras “faraónicas” ou, no meu entender, em obras que não servem para o bem do cidadão, aliás o único sentido a dar a estas as coisas.
Em Mafra existe um edifício que tem tantos
pisos soterrados quantos os que tem à superfície, entre outras singularidades
“faraónicas”, e tudo isto para servir meia dúzia de frades e um rei de quem, mesmo
depois de morto, se falava como esbanjador do ouro e da escravatura que mandava
para o Brasil.
Poder-se-ia dizer o mesmo quando
se fez o Aqueduto das Águas Livres, porém este foi uma utilidade pública e feito
por engenharia militar. Continuando o percurso da História pela década de
cinquenta do séc. XX, a tapada que se encontra nas traseiras do convento de
Mafra tem cerca de 1200
hectares e uma extensão de 16 quilómetros ,
terminando próximo de Torres Vedras.
Para que esta obra se concretizasse
foram apanhados à força uma boa parte dos homens válidos de todo o país e
mandados para Mafra amarrados em cordas. Juntaram-se assim cerca de 45000 trabalhadores
e 7000 soldados.
A pedra para a sua construção
veio de Pêro Pinheiro e de fora veio o restante (quem assim o descreve é José Hermano Saraiva na sua História
Concisa de Portugal); tudo isto para edificar um edifício para
albergar cerca de 300 frades.
Comenta-se que, quando o rei
encomendou uma torre com trinta e tantos sinos aos Holandeses, estes terão
mostrado dúvidas pelo custo envolvido. Então, o soberano, que viveu paralítico nos
seus último anos, mandou fazer duas torres em vez de uma.
Foi assim que o nosso povo sempre
viveu: à custa do heroísmo de uns tantos, como é exemplo da nossa história a célebre
e grandiosa embaixada mandada ao papa por D. Manuel I.
Tanto
teriam a nossos reis para contar...
Voltemos
à nossa tapada, que afinal não é uma, mas sim duas. Duas porque se distinguia
entre a tapada número um e a número dois, sendo que a esta última se chamava
também de “casal do abade” onde, sobre uma colina, vivia uma velha (que seria a
ama canónica do abade). Uma vez que a senhora sempre se recusara a de lá sair,
El-rei D. João V em pessoa resolveu lá ir, com o propósito do voto que fizera
de o convento ter um terreno igual em grandeza ao convento. Quando o rei foi
visitar a velha que lá vivia fartou-se das suas mesuras (de dizer ao Real
senhor que queria muito ao seu casal) e o rei, vendo que ela não cedia
facilmente, acabou por lhe propor: “Vende-me o casal que dou-te um barrete
cheio de peças de ouro.”
El-rei
recebeu como resposta “Pois, meu senhor ,para que vossa majestade não me leve o
meu casal, sou capaz de dar… dois barretes de peças.”. A solução do caso acabou
por ser uma expropriação, como também explicou José Hermano Saraiva. Passados trinta ou quarenta anos ainda se
resolviam casos respeitantes ao convento.
Defronte
ao convento, seguindo a rua de Serpa Pinto, há uma capelinha muito antiga (a igreja
de Santo André) que tem uma lápide onde se lê que o Papa Pedro Hispano lá foi
prior.
José Mendonça, 22 Junho 2013
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