sábado, 22 de junho de 2013

Os desvios que as democracias às vezes nos pregam

Convento de Mafra

Ao tentar descrever alguns desvios da Nação, pensei para comigo mesmo que as democracias às vezes nos pregam partidas. Dei comigo a consultar o período da nossa história em que D. João V reinou, e isto porque ouço falar em obras “faraónicas” ou, no meu entender, em obras que não servem para o bem do cidadão, aliás o único sentido a dar a estas as coisas.

Em Mafra existe um edifício que tem tantos pisos soterrados quantos os que tem à superfície, entre outras singularidades “faraónicas”, e tudo isto para servir meia dúzia de frades e um rei de quem, mesmo depois de morto, se falava como esbanjador do ouro e da escravatura que mandava para o Brasil.
Poder-se-ia dizer o mesmo quando se fez o Aqueduto das Águas Livres, porém este foi uma utilidade pública e feito por engenharia militar. Continuando o percurso da História pela década de cinquenta do séc. XX, a tapada que se encontra nas traseiras do convento de Mafra tem cerca de 1200 hectares e uma extensão de 16 quilómetros, terminando próximo de Torres Vedras.
Para que esta obra se concretizasse foram apanhados à força uma boa parte dos homens válidos de todo o país e mandados para Mafra amarrados em cordas. Juntaram-se assim cerca de 45000 trabalhadores e 7000 soldados.
A pedra para a sua construção veio de Pêro Pinheiro e de fora veio o restante (quem assim o descreve é José Hermano Saraiva na sua História Concisa de Portugal); tudo isto para edificar um edifício para albergar cerca de 300 frades.
Comenta-se que, quando o rei encomendou uma torre com trinta e tantos sinos aos Holandeses, estes terão mostrado dúvidas pelo custo envolvido. Então, o soberano, que viveu paralítico nos seus último anos, mandou fazer duas torres em vez de uma.
Foi assim que o nosso povo sempre viveu: à custa do heroísmo de uns tantos, como é exemplo da nossa história a célebre e grandiosa embaixada mandada ao papa por D. Manuel I.

Tanto teriam a nossos reis para contar...

Voltemos à nossa tapada, que afinal não é uma, mas sim duas. Duas porque se distinguia entre a tapada número um e a número dois, sendo que a esta última se chamava também de “casal do abade” onde, sobre uma colina, vivia uma velha (que seria a ama canónica do abade). Uma vez que a senhora sempre se recusara a de lá sair, El-rei D. João V em pessoa resolveu lá ir, com o propósito do voto que fizera de o convento ter um terreno igual em grandeza ao convento. Quando o rei foi visitar a velha que lá vivia fartou-se das suas mesuras (de dizer ao Real senhor que queria muito ao seu casal) e o rei, vendo que ela não cedia facilmente, acabou por lhe propor: “Vende-me o casal que dou-te um barrete cheio de peças de ouro.”

El-rei recebeu como resposta “Pois, meu senhor ,para que vossa majestade não me leve o meu casal, sou capaz de dar… dois barretes de peças.”. A solução do caso acabou por ser uma expropriação, como também explicou José Hermano Saraiva. Passados trinta ou quarenta anos ainda se resolviam casos respeitantes ao convento.
  

Defronte ao convento, seguindo a rua de Serpa Pinto, há uma capelinha muito antiga (a igreja de Santo André) que tem uma lápide onde se lê que o Papa Pedro Hispano lá foi prior.

José Mendonça, 22 Junho 2013

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