sábado, 11 de maio de 2013

A inauguração de uma ponte sobre o Douro

Construção da ponte da Arrábida


Por volta das décadas cinquenta e sessenta, quando a Câmara Municipal do Porto solicitou diversos projectos com vista a uma nova travessia sobre o Rio Douro no lugar do Monte da Arrábida, entre o Porto e Vila Nova de Gaia, de numerosas propostas uma se destacou pelo carácter inovador e por ser mais económica. O seu responsável – Edgar Cardoso - era um jovem professor engenheiro do laboratório de engenharia civil, em Lisboa.

A obra a executar por esse engenheiro propunha uma nova técnica muito avançada, talvez única. Tal audácia levou engenheiros nacionais e estrangeiros a duvidar da sua exequibilidade. Apesar disso, a obra foi entregue àquele técnico. A concepção da ponte começaria pela construção dos pilares em ambas as margens, os quais iriam ser o suporte das partes que iriam alçar do leito do rio um arco enorme, em betão, pousado em cima de duas enormes barcaças. Para içar, fechar e acoplar o arco (considerado, na época, o maior e mais pesado da Europa) seriam utilizados potentes macacos hidráulicos. Questionavam alguns se os pilares suportariam tal peso ou se, pelo contrário, os macacos cederiam nem que fosse milímetros, comprometendo o fecho da ponte.

Técnicos de todo o mundo trataram de ver quando seria anunciado o dia da operação da acoplagem e, na véspera, os hotéis da cidade esgotaram as marcações para que se assistisse à queda da ponte. As margens do rio encheram-se de pessoas. À hora programada, deu-se a chegada rio abaixo de dois batelões com o arco que iria fechar a ponte pousado em ambos. Assistiu-se depois à lenta elevação daquele enorme arco e ao seu encaixe, conforme os cálculos ao milímetro, no vão vazio da ponte.

Foi então que eu, e os demais, nos orgulhámos de ver um português a mostrar ao mundo uma nova técnica de engenharia. 

É também a este engenheiro que se deve a remodelação da Ponte D. Luís para passagem do metro, e é igualmente de sua autoria a ponte ferroviária de S. João, bem como dezenas de obras por esse mundo fora.


Apesar de não ter conhecimento da existência de uma rua com o seu nome, por este célebre projectista de pontes falam as suas obras.


José Mendonça
in Lembranças de um tempo já passado

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