Construção da ponte da Arrábida |
Por
volta das décadas cinquenta e sessenta, quando a Câmara Municipal do Porto
solicitou diversos projectos com vista a uma nova travessia sobre o Rio Douro
no lugar do Monte da Arrábida, entre o Porto e Vila Nova de Gaia, de numerosas
propostas uma se destacou pelo carácter inovador e por ser mais económica. O
seu responsável – Edgar Cardoso - era um jovem professor engenheiro do laboratório
de engenharia civil, em Lisboa.
A
obra a executar por esse engenheiro propunha uma nova técnica muito avançada,
talvez única. Tal audácia levou engenheiros nacionais e estrangeiros a duvidar
da sua exequibilidade. Apesar disso, a obra foi entregue àquele técnico. A
concepção da ponte começaria pela construção dos pilares em ambas as margens,
os quais iriam ser o suporte das partes que iriam alçar do leito do rio um arco
enorme, em betão, pousado em cima de duas enormes barcaças. Para içar, fechar e
acoplar o arco (considerado, na época, o maior e mais pesado da Europa) seriam
utilizados potentes macacos hidráulicos. Questionavam alguns se os pilares
suportariam tal peso ou se, pelo contrário, os macacos cederiam nem que fosse
milímetros, comprometendo o fecho da ponte.
Técnicos
de todo o mundo trataram de ver quando seria anunciado o dia da operação da
acoplagem e, na véspera, os hotéis da cidade esgotaram as marcações para que se
assistisse à queda da ponte. As margens do rio encheram-se de pessoas. À hora
programada, deu-se a chegada rio abaixo de dois batelões com o arco que iria
fechar a ponte pousado em ambos. Assistiu-se depois à lenta elevação daquele
enorme arco e ao seu encaixe, conforme os cálculos ao milímetro, no vão vazio
da ponte.
Foi
então que eu, e os demais, nos orgulhámos de ver um português a mostrar ao mundo
uma nova técnica de engenharia.
É também a este engenheiro que se deve a remodelação
da Ponte D. Luís para passagem do metro, e é igualmente de sua autoria a ponte
ferroviária de S. João, bem como dezenas de obras por esse mundo fora.
Apesar
de não ter conhecimento da existência de uma rua com o seu nome, por este
célebre projectista de pontes falam as suas obras.
José Mendonça
in Lembranças de um tempo já passado
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