Quando lhe cabia julgar alguém que era preso por andar descalço (em 1940 era proibido andar sem calçado), o senhor doutor juiz António Quintela optava pela absolvição. Justificava-o dizendo que quem não tinha dinheiro para comer também não o tinha para se calçar.
Quando
alguns médicos chamaram a atenção para o perigo de transmissão de doenças que
andar sem nada nos pés podia representar, mandou fazer em madeira o desenho da
parte de baixo dos sapatos que com uma tira de couro por cima se segurava aos
pés. Afirmava então aos réus que, se calçados daquela maneira, nada lhes
aconteceria. Àqueles que provassem que não podiam adquirir este molde, António
Quintela custeava-o.
Certa
vez, apareceu-lhe o julgamento de uma casa que vendia vinhos, onde se reunia um
grupo de pessoas humildes, de fracas posses que, depois do encerramento da casa
à noite, ali se juntava para jogar cartas. Logo rotularam a casa de ‘casino’.
Depois de ouvir os réus, o juiz António Quintela concluiu que o que se ganhava
revertia para a compra de roupa para que as mulheres dos sócios daquela
colectividade fizessem vestidos para as crianças. O grupo chamava-se Bem Fazer. Enternecido, disse não ver
caso para julgamento e inscreveu-se na colectividade. Assim nasceram imensos Bem Fazer por essas terras fora.
Sem comentários:
Enviar um comentário