Dr. Vilar Machado |
Li algures esta designação e afirmo, com toda a
admiração de quem precisou dos seus préstimos, quanto é certa a designação Médico dos ricos e dos pobres. Além do
amor que nutria pelos outros, o Doutor Vilar Machado era agradável e tinha
simpatia a rodo e, com toda gente, era modesto, amigavelmente colocava o seu
braço no nosso e assim seguia connosco, sempre com a amizade que a todos
habituou e que por todos era reconhecida. Não distinguia os seus doentes fosse qual
fosse a sua classe social e a sua modéstia era de tal ordem que um familiar meu
andou anos a fio a ser consultado em sua casa, nunca tido ele aceitado quaisquer
honorários. A paciente faleceu com 94 anos, julgando que ele era um médico da
junta.
O Doutor Vilar Machado tinha para com os Mamedenses
uma confiança tal que, onde quer que o seu carro estivesse estacionado, era
certo e sabido que as chaves de seu carro lá estariam também. Sempre que o
alertavam para os perigos de tal prática, sempre respondia que lidava com gente
séria. Certa vez, quando se dirigia para o carro depois de estar numa roda de
amigos, ao não encontrar a viatura seguiu descontraído para casa, como se nada
tivesse acontecido. Pela manhã foram pôr o carro à porta sem nada lhe faltar. Pois
este Homem continuou, como sempre, com os mesmos hábitos, sempre com o seu
carro vermelho e com os mesmos costumes.
Por outra ocasião, ao consultar determinada paciente,
esta chamou-lhe a atenção para a sujidade do carro. Resposta pronta do médico:
“Mas terei eu comprado o carro para ele me servir, ou para ser eu a servi-lo?”.
Era assim o Doutor Vilar Machado. O Homem que
brincava, mas que sofria quando se via impotente para travar a morte de alguém.
José Mendonça
in Lembranças de um tempo já passado
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