Na
década de cinquenta ou sessenta apareceu um padre em S. Mamede de Infesta
oriundo de Coimbra com a incumbência de ajudar o padre da freguesia. Dizia a
missa das sete da manhã aos domingos e, depois de travar conhecimento com
certas pessoas da minha terra, apercebeu-se da precariedade das condições de
vida de muitos. Juntou-se, então, a certas pessoas que não eram lá muito da
confiança do padre e com elas fez uma comissão. A estes se juntou um arquitecto
que elaborou a planta de casas para os mais carenciados. Foi negociada com um
lavrador a cedência de terreno para a construção de doze fogos e a procura de
materiais e de dinheiro. O movimento ganhou tal extensão que já incluía ateus,
protestantes e outros credos. O povo abraçou a ideia. Houve quem se tenha
oferecido para trabalhar ao domingo, único dia de descanso. O padre mandou
colocar à porta uma giga para donativos durante a missa, que ao padre nada
rendia, mas que fez com que se começasse a erguer a obra com que se sonhava.
MOJAF - S. Mamede de Infesta fotografia retirada de: http://criarlacos-ex-dominicanos.blogspot.pt/2010/02/quem-se-recorda-destas-imagens.htm |
Era ver rapazes e raparigas, ricos e pobres trabalhando lado a lado a fazer traços de massa e a fazê-los chegar aos artistas que alegremente trabalhavam. Não faltavam pessoas a trabalhar e mirones que gostavam de observar em especial as meninas. O nosso homem uma vez mais recorreu ao sistema da giga, pelo que quem vinha trabalhar também devia contribuir. E assim nasceu a Mojaf, o movimento por diversas terras (casas para pobres).
Este
homem teve de fugir à polícia política. Refugiou-se em França. Depois da
revolução do Vinte e Cinco de Abril apareceu na secretaria do Ministério da Saúde,
já depois de ter renunciado à igreja católica. A ele se deve aquele grande
infantário junto do posto da Caixa em S. Mamede de infesta (muito antes de
aparecer a Lei Nacional de Saúde).
José Mendonça
in Lembranças de um tempo já passado
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