Capela de Esposade |
Em Esposade, lugar com
sua Capelinha de que se desfruta uma deliciosa paisagem do lado do Porto, o
betão ameaça. Mas, no lado contrário, o campo e a Natureza convidam ao
relaxamento e à observação do trabalho rural, que teima em perdurar.
Deste lugar, nasce uma
lenda. Aqui vivia D. Caio, um fidalgo que, ao procurar um lugar grande para a
comemoração de seu casamento, resolveu escolher o lugar de Zinhos, do concelho
de Bouças, em Matosinhos, junto ao mar (e onde se encontra o monumento ao
Senhor de Matosinhos). Depois da cerimónia, o noivo, os camaradas e alguns convidados
andavam em corridas com seus cavalos pelo extenso areal, quando lhes foi
lançado um desafio: quem iria mais longe pelo mar adentro. O desafio foi logo
aceite. Já longe da praia, D. Caio, que ia na frente, viu algo que se
assemelhava a um corpo. Exigindo um pouco mais de esforço da sua montada,
aproximou-se e deparou-se com a imagem de um Santo, sem um braço e oca no
tronco. Logo a trouxe para o areal. Eram nítidas as semelhanças com Cristo,
particularmente no rosto.
O achado foi levado para
uma igreja, que existia num alto. Foi identificada como uma das quatro imagens
esculpidas por Nicodemos, o carpinteiro que acompanhou os últimos passos de
Cristo. Vemo-lo em certas litografias tentando aliviar o peso da cruz, que
Cristo suportava aos ombros na subida para o monte de Golgotá. Vemo-lo ainda a
assistir a momentos da crucificação de Cristo. Com José de Arimateia, terá
providenciado para que o corpo de Cristo fosse descido da cruz, recolhido o
sangue de Jesus no Graal, e embalsamado o corpo num sepulcro. Com base nesta
vivência, Nicodemos esculpiu, em madeira, as imagens de CRISTO. Nicodemos era
perseguido pelos judeus que lhe chegaram, até, a confiscar os bens. As
perseguições aos cristãos de então eram tais que chegavam a ser destruídas pelos
judeus as imagens consideradas sagradas, motivo pelo qual muitas obras eram
escondidas ou lançadas ao mar, para não serem queimadas. Apercebendo-se de tal,
Nicodemos, que trabalhava já na última das quatro imagens, resolveu deixar as
costas da imagem oca. Lá dentro, guardou os instrumentos com que a esculpira.
Desceu ao porto de Job, nas costas da Judeia, e lançou as imagens ao mar. Estas
rumaram de nascente para poente, passaram o estreito de Gibraltar, entraram em
pleno oceano Atlântico, e por lá se dispersaram, tendo a quarta imagem vindo
dar à praia de Zinhos, actualmente, Matosinhos.
Durante o percurso, e devido
à agitação do mar, despegou-se um braço do corpo, bem como a estrutura que lhe tapava
a parte oca, onde se encontravam as ferramentas que talharam a imagem.
Mais tarde, naquele
lugar, mãe e filha andavam em busca de madeira e encontraram um braço em
madeira que, posto ao lume bem forte, não ardia. Depois de várias tentativas
infrutíferas, experimentou-se colocar o braço na imagem. A naturalidade com que
o membro foi encaixado na imagem não deixou dúvidas a ninguém. Era o braço que
faltava ao Senhor de Matosinhos. E desde então, todos os anos, se realiza,
nesta cidade, a grande romaria em louvor do Senhor de Matosinhos.
José Mendonça
in Lendas do leito do rio Leça
in Lendas do leito do rio Leça
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