sábado, 6 de abril de 2013

Lendas do leito do rio Leça (Senhor de Matosinhos)


Capela de Esposade

Em Esposade, lugar com sua Capelinha de que se desfruta uma deliciosa paisagem do lado do Porto, o betão ameaça. Mas, no lado contrário, o campo e a Natureza convidam ao relaxamento e à observação do trabalho rural, que teima em perdurar. 
Deste lugar, nasce uma lenda. Aqui vivia D. Caio, um fidalgo que, ao procurar um lugar grande para a comemoração de seu casamento, resolveu escolher o lugar de Zinhos, do concelho de Bouças, em Matosinhos, junto ao mar (e onde se encontra o monumento ao Senhor de Matosinhos). Depois da cerimónia, o noivo, os camaradas e alguns convidados andavam em corridas com seus cavalos pelo extenso areal, quando lhes foi lançado um desafio: quem iria mais longe pelo mar adentro. O desafio foi logo aceite. Já longe da praia, D. Caio, que ia na frente, viu algo que se assemelhava a um corpo. Exigindo um pouco mais de esforço da sua montada, aproximou-se e deparou-se com a imagem de um Santo, sem um braço e oca no tronco. Logo a trouxe para o areal. Eram nítidas as semelhanças com Cristo, particularmente no rosto.

O achado foi levado para uma igreja, que existia num alto. Foi identificada como uma das quatro imagens esculpidas por Nicodemos, o carpinteiro que acompanhou os últimos passos de Cristo. Vemo-lo em certas litografias tentando aliviar o peso da cruz, que Cristo suportava aos ombros na subida para o monte de Golgotá. Vemo-lo ainda a assistir a momentos da crucificação de Cristo. Com José de Arimateia, terá providenciado para que o corpo de Cristo fosse descido da cruz, recolhido o sangue de Jesus no Graal, e embalsamado o corpo num sepulcro. Com base nesta vivência, Nicodemos esculpiu, em madeira, as imagens de CRISTO. Nicodemos era perseguido pelos judeus que lhe chegaram, até, a confiscar os bens. As perseguições aos cristãos de então eram tais que chegavam a ser destruídas pelos judeus as imagens consideradas sagradas, motivo pelo qual muitas obras eram escondidas ou lançadas ao mar, para não serem queimadas. Apercebendo-se de tal, Nicodemos, que trabalhava já na última das quatro imagens, resolveu deixar as costas da imagem oca. Lá dentro, guardou os instrumentos com que a esculpira. Desceu ao porto de Job, nas costas da Judeia, e lançou as imagens ao mar. Estas rumaram de nascente para poente, passaram o estreito de Gibraltar, entraram em pleno oceano Atlântico, e por lá se dispersaram, tendo a quarta imagem vindo dar à praia de Zinhos, actualmente, Matosinhos.

Durante o percurso, e devido à agitação do mar, despegou-se um braço do corpo, bem como a estrutura que lhe tapava a parte oca, onde se encontravam as ferramentas que talharam a imagem.

Mais tarde, naquele lugar, mãe e filha andavam em busca de madeira e encontraram um braço em madeira que, posto ao lume bem forte, não ardia. Depois de várias tentativas infrutíferas, experimentou-se colocar o braço na imagem. A naturalidade com que o membro foi encaixado na imagem não deixou dúvidas a ninguém. Era o braço que faltava ao Senhor de Matosinhos. E desde então, todos os anos, se realiza, nesta cidade, a grande romaria em louvor do Senhor de Matosinhos.


José Mendonça
in Lendas do leito do rio Leça

Sem comentários:

Enviar um comentário